Hugo Farias: o maratonista que correu 366 dias seguidos — e quebrou barreiras

Em agosto de 2022, Hugo Farias iniciou uma jornada que poucos ousariam imaginar: correr uma maratona por dia durante 366 dias consecutivos. Ex-gerente de vendas de tecnologia da IBM, ele trocou o conforto da vida corporativa pela incerteza de uma rotina brutal — tudo por uma causa maior: descobrir seu propósito e inspirar milhares de pessoas a acreditarem que a superação diária é possível.

🏁 Uma decisão que mudou tudo

Cansado da mesmice e movido pela inquietação de querer algo além, Hugo deixou o emprego e montou sua própria equipe: fisioterapeuta, psicólogo, médico esportivo, nutricionista, técnico e apoio logístico. Assim nasceu o Projeto Propósito, com o compromisso de correr 42,195 km todos os dias, sem exceção.

Ele trocou o terno por tênis, o relógio por quilômetros e o escritório por ruas e estradas. Durante um ano, Hugo percorreu 15.443 km, o equivalente a quase 14 subidas no Monte Everest em desnível acumulado.

O dia mais difícil

No dia 236, no interior da Bahia, Hugo viveu o pior momento da jornada. Uma insolação intensa, somada a uma pubalgia aguda e desidratação severa, quase o tiraram do jogo. Ele precisou ser medicado, ficou sob observação médica e passou a tarde inteira deitado. Às 19h, com a temperatura mais amena e mesmo sentindo dores, ele se levantou, amarrou os tênis e completou os 42 km da maratona do dia.

A decisão de correr naquela noite foi mais emocional do que física. “Eu fiz um pacto comigo mesmo. Eu podia parar, mas não queria. Não era mais só sobre mim. Era sobre todos que estavam correndo comigo em pensamento”, contou.

A pubalgia: dor, insistência e adaptação

A pubalgia foi um dos maiores vilões da jornada. A dor intensa na região do púbis apareceu por volta da centésima maratona e se agravou com o tempo. Hugo precisou adaptar o ritmo, alongar ainda mais, revisar a biomecânica e aplicar gelo e técnicas de liberação miofascial diariamente.

Além disso, reduziu o pace para manter a integridade muscular, alongou os treinos de recuperação e inseriu trechos de caminhada leve. Ele também passou a usar um suporte ortopédico e seguiu firme com sessões semanais de fisioterapia.

Mesmo com as dores, Hugo não parou — e essa foi uma das maiores demonstrações de resiliência de todo o projeto.

O impacto no corpo (e a surpresa dos médicos)

Com acompanhamento médico rigoroso, Hugo realizou exames cardiológicos e laboratoriais periódicos. O que surpreendeu a todos: não houve danos ao coração nem às funções renais. Seu VO₂ máximo se manteve estável (49-52 ml/kg/min), e os exames mostraram uma adaptação eficiente do corpo à rotina extrema — uma verdadeira aula de fisiologia em tempo real.

O legado de um feito histórico

No dia 28 de agosto de 2023, em São Paulo, Hugo correu sua 366ª maratona diante de 2.000 pessoas. Entrou para o Guinness World Records e, mais do que isso, entrou para a história do esporte como um dos exemplos mais grandiosos de constância e disciplina já registrados no Brasil.


O que aprendemos com Hugo

  • A dor vai chegar, mas ela passa. O propósito fica.

  • Constância é mais importante que intensidade.

  • Você só descobre o que é capaz quando aceita o desconforto.

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